domingo, 9 de janeiro de 2011

Salvaste-me!

Naquela noite gelada conseguiste fazer, o que nem os bombeiros conseguiram. Devo-te a minha vida! Não sei como te lembraste de mim no meio de tanta gente. Pela primeira vez senti-me importante e realizei um dos meus maiores sonhos. Aparecer na televisão; Ser fotografada por dezenas de fotógrafos… Mas não era assim que eu idealizava a minha entrada para a televisão. Foram as 2 horas mais longas da minha vida. No meio de tanta gente a gritar por socorro e a pedir ajuda, vieram-me imagens nossas à cabeça... Naquelas 2 horas pensei simplesmente em ti. Porque é que tinha de acabar a minha vida zangada contigo, será que era o destino? E porquê contigo…? Naquelas 2 horas de terror acabei por perceber que realmente damos demasiado valor às coisas que não interessam, aqueles problemas que nós dizemos ser tão graves, naquele momento pareciam-me caprichos de pessoas “parvas” pelo menos relacionado com o que se estava a passar comigo. Cheguei à conclusão que a vida é o mais importante de tudo e que precisava de voltar para junto de ti, nem que fosse só para te pedir desculpa uma última vez. Quando me tentei mover com a esperança de chegar a ti, ouvi os meus ossos da perna a estalar e senti-os desmembrar-se do corpo, como se me tivessem cortado a perna e entretanto começaram a surgir dores muito intensas, dores físicas e psicológicas e acabei por desmaiar… Só me lembro de acordar enroscada a ti, naquela cama de hospital improvisada. Senti uma felicidade enorme ao perceber que estava viva, mas fiquei a pensar na quantidade de pessoas que estavam debaixo dos destroços incluindo crianças. Passei a noite a rezar para que essas pessoas tivessem a sorte que eu tive e enquanto isso ia-te fazendo festas na cabeça só para ver se realmente não estava a sonhar. O suor corria-te pela cara a baixo, estavas com um ar pálido e nessa noite (noite essa que me pareceu a noite mais longa da minha vida) só pronunciavas o nome MARTA, fiquei curiosa por dizeres o nome MARTA e não o meu, mas depois percebi que estavas a delirar. Gritei por um médico, entretanto chegou-se ao pé de mim um senhor com uma cicatriz enorme na cara, que me pareceu ter idade para ser meu avô, o senhor tinha o cabelo todo branco e só dizia para eu me aclamar. Tive muito medo de te perder… Agora que ultrapassamos isto juntos e que me explicas-te que a MARTA foi uma das crianças que chorava chamando pela mãe, no meio daquela gente toda, eu senti-me a pior pessoa do mundo. Como é que fui pensar que podia ser outra tua namorada. Enquanto me fazias a descrição da menina e as lágrimas iam-te caindo pela cara a baixo, senti que realmente tinha cometido um dos maiores erros da minha vida. Quando me disseste que a menina chorava a dizer que queria a mãe e que lhe estavas sempre a dizer para ela manter a calma, mesmo sabendo que ela não iria sobreviver, dou-te os PARABÉNS porque eu não teria aguentado ver uma menina com apenas cinco anos a gritar desesperadamente pela mãe e agarrada a mim a perguntar quando é ia poder falar com a mãe e eu a ter que lhe dizer que não faltava muito, mesmo sabendo que ela não tinha salvação. Nem imagino como ficas-te quando percebes-te que a menina, a MARTA, morreu nos teus braços. Vamos ultrapassar este fase juntos e apoiarmo-nos mutuamente. O que achas? Concordas?

2 comentários: