domingo, 9 de janeiro de 2011

Carta ao papá (L)

Querido papá,
Euzinha está cheia de saudades de tuzinho.

Quando digo aos meus colegas que tu moras comigo, mas só te vejo aos fins-de-semana e feriados (e mesmo assim preciso de ter muita sorte!) eles ”gozam” comigo dizendo que foges de mim, porque eu sou muito chata, é verdade? A mãe diz para eu não ligar ao que eles dizem e eu digo-lhe que não ligo e que não me afecta, mas a verdade é que me toca e só não começa a chorar porque todas as noites choro por ti e já não tenho mais lágrimas.

Quando me levanto tu já foste embora e quando me deito ainda não chegaste, ontem eram duas da manhã, a mamã já dormia e tu ainda fora de casa.

Ela diz que tu não passas tanto tempo connosco, porque tens de ganhar dinheiro para sermos “ricos” como somos. Eu penso que preferia comer menos, com menos variedade e ter-te a meu lado nos momentos mais importantes da vida, penso que se quisermos podemos melhorar, não penses que não sei o que digo só porque tenho 11 anos, pois tanto tu como eu sabemos que não foi a teu lado que disse a primeira palavra, que não foi com o teu apoio que dei os primeiros passos e não tiveste ao meu lado no primeiro dia de escola e olha que eu senti bem a tua falta, sabes porquê porque euzinha gosta muito tuzinho.


P.S: Pensa bem na minha proposta que eu vou esperar pela tua resposta. Lembra-te qualquer que seja a tua resposta tu serás sempre o meu papá e eu a tua filhota! Adoro-te papá! (L)

Rita volta por favor! Ficou tanto por dizer...

-Sinto-me cada vez pior; sinto que estou completamente morta por dentro é como se o mundo rodasse e eu fosse ficando para trás, como um objecto inanimado. Acabei por não ir para a faculdade, por motivos óbvios e agora estou a deixar de falar com os meus próprios pais, mas nem eu sei bem porquê… Tudo isto devido ao que aconteceu… Depois do incêndio ainda não tive uma refeição sem refilar com os meus pais e coma minha irmã, sinto que os ando a tratar mal, mas sinto também que já não controlo o que faço nem mesmo o que digo. Mesmo tratando os meus pais como tenho tratado, eles todas as noites batem à porta do meu quarto e perguntam se podem entrar e depois de eu dizer um sim como quem diz um não, eles entram, vêm direitos à minha cama, dão-me um beijo e fazem-me uma festa na cabeça. Isto tem acontecido todas as noites, mas ontem foi diferente a minha mãe bateu à porta e quando eu ia dizer que podia entrar, reparei que ela já estava dentro do meu quarto e sentada na minha cadeira verde que me mandou a tia Lia, um dia antes do pior dia da minha vida. E pela primeira vez depois da minha suposta festa, fiquei preocupada. Há quanto tempo já não tinha esse sentimento… Preocupação? Desde que me deixassem quietinha no meu canto e não falassem comigo para quê preocupar-me?
Foi nesse preciso momento que a minha mãe disse que tinha marcado uma consulta para a melhor psiquiátrica da Europa e arredores. Perguntei-lhe se achava que eu estava a ficar maluca, e ela virou a cara olhando para o quadro que pintei quando tinha dois anos… aí percebi que não valia a pena contrariar a minha mãe (porque ela não me estava a perguntar se eu queria ir, mas sim a afirmar de uma forma mais subtil que tinha marcado uma consulta à qual eu não iria faltar por nada). E aqui estou eu a falar consigo!
- Fala-me de como aconteceu esse incidente na tal casa abandonada… - Afirmou a psiquiátrica, depois de um grande e breve suspiro.
-Não sei se consigo falar disso, muito menos consigo que não a conheço, mas prometo que vou dar o meu melhor. Foi assim… eu tive a ideia de juntar a minha festa de anos ao halloween (agora sei que foi uma ideia infeliz) porque como as datas são muito perto uma da outra, pensei em fazer uma festa de anos com o tema do Halloween, assim era duas festas numa. Aproveitei a viagem dos meus pais para fazer a festa sem eles saberem, e depois não sei porquê pensei que se os convidados viessem todos mascarados era mais giro. Não sei quem estava mascarado de tartaruga ninja, só sei que foi o culpado disto tudo! Eu permiti bebidas alcoólicas na minha festa e como eram a borla, beberam até não ter forças para mais. Só me lembro de ver a tartaruga ninja com uma cerveja numa mão e um cigarro noutra, e de repente sem razão aparente deixou cair o cigarro pondo toda a gente aos gritos… Foi horrível!
- Conta-me mais… porque não me parece que tenhas ficado no estado em que estás pelo resumo que me fizeste. O que te chocou mais, não foi isso pois não…? - Perguntava a psiquiátrica com um ar meditativo.
- Foi a Rita… a minha melhor amiga. Ela não queria ir à festa mas eu convencia dizendo-lhe que andava a passar demasiado tempo em casa e que se ela não fosse eu não fazia festa. A verdade é que a convenci e por minha culpa ela… Ela tinha ido à casa de banho quando tudo aconteceu e no meio de tanta aflição e inquietação fomos todos a correr lá para fora e não nos lembrámos dela, nem eu! Quando fomos lá para fora é que senti a falta dela e percebi que ainda deveria estar na casa de banho. Quis voltar lá dentro para a ir buscar mas os meus “amigos” não me deixaram, agarraram-me e diziam para eu ter calma... Como haveria de ter calma numa situação daquelas? Entrou um rapaz, o Miguel, para a ir procurar e disse-me que chegou a ouvir os gritos dela de desesperada mas que com tanto choro, pânico e confusão lá fora, não conseguiu perceber onde é que ela estava. Hoje já passaram 3 anos e todas as noites imagino a Rita fechada na casa de banho. Ficou tanto por dizer… Gostava que o tempo fosse com um dvd para poder pôr stop, para parar e Play para começar de novo. Eu ADORAVA!

Salvaste-me!

Naquela noite gelada conseguiste fazer, o que nem os bombeiros conseguiram. Devo-te a minha vida! Não sei como te lembraste de mim no meio de tanta gente. Pela primeira vez senti-me importante e realizei um dos meus maiores sonhos. Aparecer na televisão; Ser fotografada por dezenas de fotógrafos… Mas não era assim que eu idealizava a minha entrada para a televisão. Foram as 2 horas mais longas da minha vida. No meio de tanta gente a gritar por socorro e a pedir ajuda, vieram-me imagens nossas à cabeça... Naquelas 2 horas pensei simplesmente em ti. Porque é que tinha de acabar a minha vida zangada contigo, será que era o destino? E porquê contigo…? Naquelas 2 horas de terror acabei por perceber que realmente damos demasiado valor às coisas que não interessam, aqueles problemas que nós dizemos ser tão graves, naquele momento pareciam-me caprichos de pessoas “parvas” pelo menos relacionado com o que se estava a passar comigo. Cheguei à conclusão que a vida é o mais importante de tudo e que precisava de voltar para junto de ti, nem que fosse só para te pedir desculpa uma última vez. Quando me tentei mover com a esperança de chegar a ti, ouvi os meus ossos da perna a estalar e senti-os desmembrar-se do corpo, como se me tivessem cortado a perna e entretanto começaram a surgir dores muito intensas, dores físicas e psicológicas e acabei por desmaiar… Só me lembro de acordar enroscada a ti, naquela cama de hospital improvisada. Senti uma felicidade enorme ao perceber que estava viva, mas fiquei a pensar na quantidade de pessoas que estavam debaixo dos destroços incluindo crianças. Passei a noite a rezar para que essas pessoas tivessem a sorte que eu tive e enquanto isso ia-te fazendo festas na cabeça só para ver se realmente não estava a sonhar. O suor corria-te pela cara a baixo, estavas com um ar pálido e nessa noite (noite essa que me pareceu a noite mais longa da minha vida) só pronunciavas o nome MARTA, fiquei curiosa por dizeres o nome MARTA e não o meu, mas depois percebi que estavas a delirar. Gritei por um médico, entretanto chegou-se ao pé de mim um senhor com uma cicatriz enorme na cara, que me pareceu ter idade para ser meu avô, o senhor tinha o cabelo todo branco e só dizia para eu me aclamar. Tive muito medo de te perder… Agora que ultrapassamos isto juntos e que me explicas-te que a MARTA foi uma das crianças que chorava chamando pela mãe, no meio daquela gente toda, eu senti-me a pior pessoa do mundo. Como é que fui pensar que podia ser outra tua namorada. Enquanto me fazias a descrição da menina e as lágrimas iam-te caindo pela cara a baixo, senti que realmente tinha cometido um dos maiores erros da minha vida. Quando me disseste que a menina chorava a dizer que queria a mãe e que lhe estavas sempre a dizer para ela manter a calma, mesmo sabendo que ela não iria sobreviver, dou-te os PARABÉNS porque eu não teria aguentado ver uma menina com apenas cinco anos a gritar desesperadamente pela mãe e agarrada a mim a perguntar quando é ia poder falar com a mãe e eu a ter que lhe dizer que não faltava muito, mesmo sabendo que ela não tinha salvação. Nem imagino como ficas-te quando percebes-te que a menina, a MARTA, morreu nos teus braços. Vamos ultrapassar este fase juntos e apoiarmo-nos mutuamente. O que achas? Concordas?

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Quase?!

Quase? Quem inventou essa palavra? O que significa um quase? Será um sim? Será um não? Será um sim para o não? Será um não para um sim? O que é um quase? Penso que um quase é … é, mas não é… nem é carne nem peixe, não é escuro nem claro, é apenas um QUASE! Uma simples palavrinha… QUASE!
Eu quase ia caindo, mas não caí. Eu quase “ia gostando”, mas não gostei. Eu quase ia chorando, mas não chorei. Eu adoraria por dizer que… Eu caí mas tu apanhaste-me. Eu gostei de ti, mas tu também gostaste. Eu chorei, mas tu limpaste-me as lágrimas.
Uma frase com um QUASE é.. Quase uma frase. Um quase deixa incertezas, deixa dúvidas, ideias, gostos, sentimentos, defeitos, mas eu não quase gostei de ti. Eu gostei, gosto e gostarei sempre de ti! FOREVER… Amo-te mãe